quinta-feira, novembro 17, 2005

* Colheita Amorosa *



Quero colher amores
Como quem colhe flores;
Começarei pela Margarida;
Farei dela minha querida.

Contemplarei a volúpia da Rosa,
Evitando seus espinhos, situação dolorosa;
Buscarei o Amor-perfeito
Com o mais intenso proveito.

Namorarei as Bromélias;
Encantarei as Camélias;
Colherei flores dos diversos odores
E das mais variadas cores.

Hei de colher flores serranas,
Silvestres, sertanejas e litorâneas;
Algumas todo meu corpo impregnaram,
Outras de um simples cheiro não passarão.

Todas marcadas por sua efemeridade;
Cada uma com sua específica tonalidade;
Porém, ao chegar o fim do dia,
Última melodia em que o sol não mais irradia,
A Flor-da-noite, perdição, conhecerei
E ao tocar sua beleza alucinógena já não serei, morrerei.
(Jarir Pereira)
*Todos os direitos reservados ao autor.
Poema que fiz quando eu tinha uns 18 anos e estava no seminário. Lembro que na ocasião eu tinha lido sobre as propriedades alucinógenas do Absinto e da Flor da noite.
O absinto é uma bebida feita da planta Artemisia absinthium. Por ter uma cor verde e seus "poderes mágicos" é conhecida como fada verde (La Fée verte). Seu teor alcoólico pode chegar até 54%. Dizem que antes de cortar a orelha Van Gogh tomou um porre de Absinto. Oscar Wilde, Picasso, Rimbaud, Paul Verlaine, Degas, Hemingway, Toulouse-Lautrec, Baudelaire, Monet, Gauguin, Klimt e os portugueses Eça de Queirós e Fernando Pessoa também eram fregueses desta bebida. Nunca tomei, mas um dia eu tomo um porre desta "égua". Só não quero acordar com a orelha cortada.
Ah, quanto a Flor-da-noite (Hylocereus undatus) é uma planta que floresce só durante a noite e em algumas espécies só florescem uma vez ao ano.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Introdução Bloguiana


Eikasia. É assim que Platão denomina o primeiro grau da gnose humana. É a instância da Imaginação, das Pro-Jecções. Uma imagem nos proporciona uma doxa (opinião) acerca do mundo. Poderia até dizer kantianamente que a mente humana é uma máquina fotográfica a registrar os fenômenos do mundo e lhes conferindo sentido. Mas minhas leituras me levam a crer que há mais coisas envolvidas aí nessa Captatio Mundi. Poderia dizer que a “realidade” nos chega e nós chegamos a ela através de uma relação sistemática entre sujeito e objeto, mediado por um esquema simbólico-histórico.
Este blog é um pro-jecto, um buraco-branco expelindo matéria. Imagens que se fundem. Seria eu o senhor dessas imagens? Até quanto elas me pertencem, uma vez que elas não me chegam do nada? Quem sabe eu seja escravo delas, uma vez que elas me orientam? Talvez, eu seja um mutante, uma coisa esquisita, que se manifesta como Senhor-Escravo. Dentro de minha mente, hegelianamente, duelam Senhor e Escravo até o apocalypse final do meu ser, quando já não há mais campo de batalha.
Este blog é um arroto oriundo das ruminações das imagens que capto ao meu redor.
A ti visitante-conhecido, digo que aqui pode estar imagisticamente aquela nossa conversa daquele dia, aquele cinema, passeio, a lembrança do seu ser. Assim te trago.
E tu estrangeiro, não te acanhes. Ninguém é por completo estrangeiro de alguém. Se tu a mim chegas é que há alguma coisa de comum em nós, nem que seja a mais abstrata existencialidade humana.
E tu, Eu-visitante de mim mesmo, não te esqueci e nem querendo poderia. Fizeste bem em regurgitar tuas mortalidades, quem sabe assim viverás um pouco mais após a tua morte. Agradeço-te e envaideço-me por gastares teus preciosos segundos nestas fantasmagorias!